Mulheres fálicas, homens desvirilizados. Como se fazer possível essa relação?





Para ler ouvindo: 9 Crimes - Damien Rice



Com base em texto de Lêda Guimarães





Um cavalheiro gentil, cheio de galanteios, cartas e declarações de amor de um lado. Uma dama sempre inacessível, do outro. Romances impossíveis, Romeu e Julieta; Tristão e Isolda. Aparece então, a partir do século XII, e desde então se colocando como uma verdade até pouco tempo, o amor cortês, que fez surgir a idéia de amor eterno (que pulsava no coração da feminilidade). A mulher era então compreendida enquanto frágil, não tendo também autoridade sobre seu corpo. O homem esperava para poder aproximar-se dessa dama (que nunca o era sem perigo), e esta aproximação era feita em etapas: primeiro um abraço, depois ela deixava beijar-se, enfim, por partes. Um romance, marcado pela impossibilidade, pelo perigo, pela espera. Marcando como já dito uma idéia de dama frágil e homem viril, corajoso.



É com o surgimento do feminismo que tudo começa a mudar de lugar. As mulheres começam a reivindicar sua inserção em meios sociais, seja no meio econômico, político, etc; o que fez possível também que estas pudessem fazer suas escolhas amorosas. As mulheres questionaram a autoridade paterna, fazendo com que esta imago paterna caísse em declínio em nossa civilização.



“Oh! Lindo e esplendoroso amor, em que o cavalheiro servil se curvava extasiado diante de sua deusa: A mulher impossível!” (Lêda Guimarães)



É então, com o fortalecimento do feminismo, que esta mulher começa e se colocar como possível, e a partir de então, esse “lindo amor”, começou a desaparecer. E, como bem coloca Lêda, foi quando as mulheres começaram a falar em resposta ao apelo apaixonado de seu amante, que a desgraça começou a se abater sobre a virilidade dos homens, reduzindo suas promessas de amor eterno ao ridículo de meras falácias, instituindo o declínio do viril.



Antes, o amor cortês. Hoje, casais contemporâneos com mulheres superpotentes e homens desvirilizados. A mulher contemporânea tem que sustentar hoje uma máscara de feminilidade que contém diversas faces: “A profissional realizada”, “A politizada, culta,intelectual”, “A administradora do lar”, “A mãe psicopedagogizada”, “A malhadora diet”, “A amante liberada”. Para sustentar essa série de potências fálicas, o amor nas mulheres passou a ser concebido como uma patologia, e nos homens como uma mentira.



As mulheres costumam queixar-se por os homens não saberem amar. Mas enganam-se, os homens também amam, mas de forma diferente. A vertente masculino de parcerias, tem sua prevalência ao lado do erótico, sendo este um mecanismo defensivo de sua identificação viril. Ainda assim, eles acabam escolhendo uma mulher dentre as demais como seu objeto privilegiado de amor. E as mulheres por sua vez, também tem em sua incessante demanda de amor, uma carga sexual



A descrença feminina do amor, se fez a base de fortes defesas obsessivas por parte delas, em uma tentativa de sustentar as diversas máscaras atuais da feminilidade (uma mulher que é mãe, dona de casa, independente, moderna, bonita, uma Super Mulher), tendo como estratégia para essa manutenção o recobrimento da dimensão do desejo, e neste caso, o afastamento da dimensão do amor, já que o amor relaciona-se com a falta, e não com a unidade buscada em nossos tempos.



Então, questiona Lêda, como essas mulheres fazem existir o amor? E responde ser, através do homem do seu pensamento. Elas fazem existir o homem completo de seu pensamento para amá-lo. Do outro lado, Lêda questiona sobre esses homens que se sujeitam a essas mulheres que atacam sua virilidade, como eles conseguem suportá-las?



Diante dessas mulheres, que já trazem escrito na testa: “Não acredito mais no amor”, este homem, ainda para Lêda, permanece como um soldado remanescente de uma guerra perdida. Um novo homem, que não desistiu dos anseios de ser amado por uma mulher, em lugar de proferir suas juras de amor, já que estas já não tem mais credibilidade, encontram como saída a via do semblante, usando estratégias da histeria, tentando se feminilizar e entregando-se às mulheres como seu novo “brinquedo” (posição até então tipicamente feminina, colocando-se enquanto objeto de desejo do Outro).



É esta então, a maneira que os homens tem encontrado para fazer laço de parceria com essas novas mulheres. Para tentar preservar o amor que aí venha a ser nutrido, ele de cara já se apresenta como castrado, destituído de qualquer potência fálica que ao menos lembre o machismo. Esses homens cultivam o declínio do viril, como modo de fazer apelo ao amor.