Obviamente não são todas as empresas, mas é um dado comumente aceite pela generalidade da sociedade portuguesa que as empresas em Portugal “evitam” contratar mulheres grávidas ou que tenham ideias de engravidar.
Numa ocasional conversa com alguns alunos da minha direção de turma, perguntei-lhes quem contrataria uma empresa portuguesa: uma mulher grávida e altamente qualificada ou uma mulher não-grávida e mediamente qualificada? A resposta sai pronta e decidida: a mulher não-grávida.
É impressionante como adolescentes de 14/15 anos já têm uma perceção nítida das más práticas laborais que os espera e de como a mentalidade empresarial e social, que enferma o nosso país, continua a ser injusta e errada.
Recentemente, um jornal diário português fazia manchete como o seguinte título “Governo vai obrigar empresas a dar horário flexível a mães e pais”. Quando temos de “obrigar” uma empresa a ter que cumprir a lei, já começamos a “perder o jogo”. Uma empresa que precisa de “ser obrigada” a flexibilizar os horários de quem é pai ou mãe, não percebe patavina de coesão social, de economia, de motivação no e para o trabalho.
A paternidade e a maternidade fazem parte da vida das sociedades assim como as empresas. E são tão ou mais importantes aquelas que estas.
As empresas não querem perceber este princípio de reciprocidade? Por que há de a sociedade entender as suas dificuldades de financiamento e adiar um, dois, três, seis meses o pagamento das suas dívidas? Seguindo o seu princípio economicista, há que executar de imediato a caução.
As empresas são feitas de pessoas, as que trabalham e as que dirigem, portanto o problema não se resolve com recurso ao computador, mas mudando mentalidades.
Os direitos são como os valores – devem ser entendidos, aceites, assimilados e cultivados. Como qualquer empresário avisado sabe, um bom negócio só é realmente bom quando aproveita a ambas as partes.
Gabriel Vilas Boas