Quando a figura do Diretor de Escola se generalizou pelo país, substituindo a o Presidente do Conselho Executivo, os professores conseguiram in extremis impor a condição de que este teria de ser um professor.
Nessa altura, os professores somavam derrotas em série e nem percebiam quão profundas seriam no futuro. O cargo de Diretor seria unipessoal (os outros membros da Direção seriam escolha sua e não teriam a legitimidade de uma eleição, ficando sempre ao dispor do Diretor); os professores não teria mais de um terço do colégio eleitoral (quase tanto como os pais e encarregados de educação) e não haveria limitação de mandatos, ou seja, um Diretor poderia passar trinta anos no cargo, que nada o impediria.
Ingenuamente os professores temiam que um qualquer economista burocrata tomasse conta das escolas e impusesse a lei dos números à frente da lei das pessoas. Realmente esse fantasma foi afastado, mas tratou-se de uma vitória de Pirro.
Quando olhamos parta o panorama dos Diretores Escolares, atualmente em funções, verificamos que muitos exercem as funções de Direção há mais de uma década, existindo um número apreciável que é Diretor há mais de vinte anos. O que quer dizer que há muitos Diretores que não dão aulas desde o século passado.
Só para lembrar como era o mundo há vinte anos: os telemóveis estavam a dar os primeiros passos em Portugal; a internet era lenta e não estava generalizada, a Escola era a paixão de António Guterres; a Tv por Cabo estreava-se e ninguém sonhava com nenhum novo acordo ortográfico. Nessa altura muitos dos nossos atuais Diretores de Escola deram a sua última aula. Se lhes perguntarmos, nem eles se lembram bem em que ano foi.
A este problema acresce outro, muito mais grave: desde que são Diretores, a quantas aulas assistiram eles? Quantas vezes nestes últimos dez, quinze vinte anos enfrentaram os alunos? Que sabem eles das alterações aos programas curriculares que os professores de Matemática, Português, Francês, Geografia, Educação Visual sofreram e como tiveram de se adaptar?
Se tivessem que voltar a dar aulas (afinal eles só foram eleitos porque eram professores), que plano de aula apresentariam aos seus alunos?
O core business da Escola são as aulas! O coração de uma Escola está na sala de aula, na relação professor-aluno e naquilo que se aprende e ensina. Quando quem dirige uma Escola percebe de tudo, mas não faz a mínima ideia como se dá uma aula, algo não vai correr bem.
Se para se ser Diretor de uma Escola tem de se ser professor, então, por que temos pouquíssimos ex-Diretores de Escola a voltar a ensinar?
GAVB