SOARES FOI FIXE

Crónica de uma morte anunciada

Depois de passadas as festas natalícias, Mário Soares lá teve autorização para morrer sem atrapalhar a alegria de ninguém. Escorropichou a vida até à última gota.
Quer gostemos ou não, ele é a cara da democracia portuguesa. Conquistou-a, liderou-a, consolidou-a.
Fez erros? Muitos! Há pessoas que o detestam, mas até essas sabem quanto ele foi importante, para a afirmação do processo democrático no nosso país.
Acertando ou errando, Soares nunca se traiu.

Assumiu a democracia e defendeu-a dos comunistas; enfrentou a crise e a primeira bancarrota, aliando-se à Direita, no Bloco Central; lançou-se na corrida à presidência da República com apenas 7% das intenções de votos, contra amigos e inimigos, vencendo no photo-finish, a mais emocionante eleição presidencial de que há memória, em 1986, contra Freitas do Amaral, apoiado por Cavaco Silva no auge do seu poder.
Soares era um líder nato. Soube governar, presidir… reinar. Havia política em tudo o que fazia; havia controvérsia, e também humanidade e cultura.

Com o passar do tempo, habitados a direitos que ele ajudou a conquistar e a manter, fomos notando os seus defeitos e desvalorizando as suas conquistas, mas nem isso o acabrunhou ou tornou azedo.
Continuou a intervir, a ser polémico, a aventurar-se. Algumas vezes já sem a noção do ridículo, como foi o caso da frustrada candidatura presidencial contra Cavaco Silva. Até nisso Soares foi diferente – não tinha medo do ridículo.
Partiu, porque todos temos de partir. Entretanto protagonizou uma vida grandiosa. Não nos deixou mais pobres, porque ainda hoje usufruímos da riqueza que ele deixou para todos - a Democracia.

Gabriel Vilas Boas
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