“Sinto-me pequenino perante tamanha onde de solidariedade. Tenho orgulho de pertencer a este povo.”
Num momento de dor e revolta, ao ver um tribunal retirar-lhe a filha porque não tinha casa nem emprego, um pai conseguiu salientar a nobreza de carácter da gente anónima que o ajudou a encontrar casa e emprego rapidamente, de molde a obstar à monstruosa decisão do Tribunal de Família do Porto, que decretou a retirada de uma criança ao seu progenitor, enviando-a para adoção.
O Tribunal podia argumentar com o desleixo do pai, com a sua impreparação para cuidar da filha, com a sua conduta moral… mas não podia invocar a falta de casa e a situação de desemprego do pai.
Quantas mães e pais não estão na mesma situação? Onde na lei está escrito que se deve retirar uma filha a um pai ou mãe por falta de habitação e emprego? Um juiz que decide de tal maneira não pode estar à frente de um tribunal que determina o futuro de menores, tamanha é a insensibilidade e desumanidade revela.
Portugal tem centenas, milhares de crianças abandonadas pelos pais, maltratadas, abusadas, que merecem a atenção e a intervenção judicial, em sua defesa, mas esta criança tinha um pai que queria cuidar dela, que a queria acolher e bem tratar, apesar da sua débil situação económica. Este pai não rejeitava a sua filha, não a tinha maltratado e foi honesto, ao relatar ao tribunal a sua situação. Em vez de decretar um apoio social extraordinário a este pai, o tribunal decide dar a sua filha para adoção. Não consigo entender, aceitar, perdoar uma atitude destas.
Felizmente, temos uma população com um sentido de justiça e de humanidade superior a alguns juízes, que não deixou os valores essenciais da nossa sociedade à mercê de uma atitude incompreensível, para ser eufemístico...
Não é o senhor Armando Sousa (pai) que tem de se sentir pequenino, mas o seu orgulho nas pessoas que corrigiram esta injustiça é perfeitamente justificável.
Gabriel Vilas Boas