Ontem, visitei com a minha filha a Praça de Toiros de Sevilha. Tinha uma certa expectativa de ver as suas entranhas, de percorrer a arena, perscrutar nas bancadas vazias aquilo que atraí tanta gente para um ato – tourear o touro para depois o matar na arena – que tem tanto de tradição como de bárbaro. Não consegui.
A esmagadora maioria dos visitantes era turista e a tourada era mais uma atração da cidade como a Torre do Ouro ou o Flamenco, mas para os sevilhanos (homens e mulheres), a tourada não se discute; é parte deles.
O interior da praça incluía um museu taurino, onde aquilo que mais me impressionou foi uma série de cabeças humanas de madeira, penduradas na parede e que a guia explicou que eram usadas para os jovens candidatos a cavaleiros profissionais treinarem a mira. Pareceu-me algo sinistro, um modo desastrado de treinar a técnica.
No entanto, aquilo que mais me chamou a atenção foi a pequena capela que a Praça de Toiros tinha (ao que parece todas têm) e que se situava imediatamente antes da porta de entrada principal dos cavaleiros e toureiros na arena. Explicou a guia que por lá passava toda a gente envolvida na corrida de touros, exceto o touro...
Que sentido faz uma capela numa praça de touros? É o touro que precisa de proteção divina, de um milagre, não o toureiro ou o cavaleiro.
Que pedirá o toureiro naqueles minutos antes da lide? Que Deus o ajude a massacrar e a matar o touro com “estilo”? Que o touro antes de morrer cruelmente se ajoelhe perante si? Como pode o Homem Cristão pedir ajuda divina para matar um ser vivo, para gáudio da assistência? Que achará Deus desta subversão completa dos seus ensinamentos?
Mais perverso do que o ser humano querer racionalizar e justificar aquilo que em si é instinto, é querer torná-lo santo!
Gabriel Vilas Boas